17/08/2011

Pura Nostalgia



Hoje tive um momento puramente nostálgico. Lembrei o primeiro instante que decidi escrever sobre e para alguém... Isto, depois se tornou  um hábito que me aliviou de tantas dores. Mas vamos às lembranças... 

Estava eu com sete anos de idade, cursando a primeira série do que hoje chamam de ensino fundamental. Aproximava-se o dia das mães e queria escrever uma mensagem em um cartão para minha mãezinha. Meus irmãos mais velhos se ofereceram para me ajudar na tarefa, já que ainda estava sendo alfabetizada e muitas palavras não sabia escrever. Respondi que não! Eu iria escrever a mensagem sozinha, com erros ou sem erros! Então escrevi a minha declaração de amor: "CERIDA MAMÃE, EU TE AMO." 

Sim, eu escrevi "cerida” ao invés de "querida". Riam bastante da minha ingenuidade!!!! Mas, o fato era que não havia aprendido as exceções da nossa tão complicada Língua Portuguesa, e no meu raciocínio simplista de criança que está sendo alfabetizada, julguei: Se C+A é igual a CA, C+E é igual a QUE. E aí cometi a minha primeira e memorável gafe na escrita. 

Minha mãe leu o cartão e se emocionou. Parecia estar diante de uma pedra preciosa. Meus irmão riam compulsivamente que quase se mijaram nas calças. Ai que raiva deles! Não conseguiram compreender que da maneira mais engraçada (e errada na grafia) estava abrindo o meu coração e declarando o meu primeiro amor. Pensando bem, eles compreenderam, a situação é que era muito engraçada e pedia boas risadas. 

Esta minha primeira declaração de amor escrita foi guardada com muito carinho pela minha mãe. As mães têm o dom de valorizar cada pequeno gesto de seus filhos, por mais insignificante que pareça. Infelizmente foi também o último cartão de dia da mães que pude lhe dar. Em fevereiro do ano seguinte ela faleceu e mais do que nunca precisei escrever. Cada angústia, cada sentimento passou a ser registrado no papel, muita vezes em um português mal escrito, porém cheio de emoções absolutamente verdadeiras. Este hábito me acompanhou a vida inteira. Foi, e, é a melhor terapia que encontrei para lidar com a dor e com as alegrias no decorrer da minha caminhada pela vida. 

Escrever tem seus rituais. Quando escrevo sobre alguma lembrança triste ou romântica, por exemplo, gosto ficar escutando bem baixinho, músicas de cantores que expressam fervorosamente seus sentimentos. Entre meus favoritos Janis Joplin, Nirvana, John Lennon, Elvis Presley, Bob Dylan, outros. É interessante, pois parece que estou dividindo a emoção com a música .

Embora hoje, por culpa da tecnologia, eu faça uso do computador, sempre gostei de usar papel e caneta para desabafar. A escrita a mão me provoca reações e questionamentos inimagináveis. Eu começo a escrever e lá pelas tantas cometo um erro de português. Quando o noto, rasuro o papel e escrevo em cima. Sigo em frente e lá pelas tantas me arrependo de alguma frase que escrevi, então, risco sobre ela e continuo a jornada das letras. Ao terminar passo a limpo para um caderno, ou mesmo para o computador. Não descarto, no entanto, o rascunho. Ele é uma preciosidade, foi nele que escrevi coisas das quais não tive coragem de compartilhar, o rascunho me faz humana com erros e acertos e me mostra emoções que eu própria desconhecia. O rascunho me dá o direito de errar e me arrepender! O rascunho é testemunha de que tentei mais uma vez!

No computador tudo é perfeito. Eu erro a grafia e o Word avisa e ainda me dá sugestões. Erro a concordância na frase e ele corrige. Se me arrependo de alguma coisa que escrevi é só deletar e no final, tudo sai perfeito, como se na vida pudesse ser sempre assim, ideias claras, pensamentos objetivos, nada de confusão, nada de erros, nada de borrões, nada dos enganos que nos tornam singularmente humanos! 

De tantos rascunhos, erros e frases equivocadas que já escrevi, cheguei à conclusão que isto é o que nos faz crescer como ser. Olhar para cada vírgula que foi colocada no nosso caminho, cada ponto de exclamação e de interrogação muitas vezes no lugar errado e se permitir escrever um novo pedaço da nossa história. Olhar para os equívocos e sentir coragem o suficiente para admitir que os cometeu, e talvez por isto entender quando o outro erra conosco. Captar cada lição de uma mensagem mal grafada e lembrar que o verdadeiro sentimento está na essência das palavras e não em sua aparência. Usar mais reticências para aquilo que não se tem uma resposta imediata. Ter cuidado ao usar o ponto final!

É, eu avisei no título que era pura nostalgia!


Célia Araújo

Nenhum comentário:

Postar um comentário