23/10/2009

Teresas da Vida Real


Não sou tão noveleira assim, mas novelas de Manoel Carlos eu não perco. Maneco fala da alma feminina como poucos autores. Através de suas Helenas (é sempre este o nome da protagonista) ele mostra mulheres guerreiras, determinadas, intensas, humanas, leais, fiéis, e se segue aí uma lista de qualidades. Fala dos dramas femininos, da maternidade, dos desejos ocultos, das loucuras que as mulheres fazem por amor ou por amar...

No entanto, em “Viver a Vida” a personagem de Lília Cabral, Teresa, vem roubando a cena. Ela é uma mulher amargurada com o fim do seu casamento com Marcos (José Mayer). Vê seu ex casar com Helena (Taís Araújo), uma mulher 20 anos mais jovem, uma linda top model. Obcecada Teresa destila seu veneno para as amigas dizendo que preferia vê-lo morto a casado com Helena. Teresa é irônica com ambos. Diz que ainda irá presenciar a separação dos dois. Comenta detalhes íntimos e hilários a respeito de seu ex. Não perde uma chance de ridicularizá-lo na frente dos amigos em comum. Mas, ainda assim caiu no gosto popular e muitos, assim como eu, assistem a novela mais para ver a Teresa que a própria Helena. Você já se perguntou por quê?

Como mulher que sou, arriscaria dizer que nos vemos através da Teresa. Ela é amargurada sim, mas humana. Teve um marido mulherengo por quem foi apaixonada a ponto de largar em pleno auge a carreira de modelo. Foi mãe e sonhou com a família perfeita do tipo “felizes para sempre”. Viu a mocidade ir embora com os anos e foi trocada por alguém tão mais jovem e mais bonita. Não estou levantando a bandeira a favor do casamento indissolúvel, tampouco dizendo que as mulheres devam ficar deprimidas pelo o resto da vida ao ver seu casamento chegar ao fim. Apenas quero lembrar que toda mulher já teve ou poderá ter o seu momento Teresa.

Qual mulher nunca desejou num momento de raiva, que seu ex marido e sua atual esposa explodissem pelos ares? Qual mulher não se sentiu ferida ao lembrar-se das escolhas erradas no casamento? Qual mulher nunca sonhou em ver o “querido” chorar lágrimas de sangue de arrependimento? Qual de nós mulheres, que amamos, nos entregamos, damos o nosso máximo no relacionamento, não teve um pensamento de ódio para o ex, ainda que por um segundo. Somos humanas, temos nossas limitações, nossas fraquezas que muitas vezes ficam escondidas atrás de um olhar amargurado. Não somos obrigadas a esconder a dor sempre. Às vezes ela é tanta que transborda, vem à tona.

É perfeitamente natural chorarmos, sofrermos, termos sentimentos menos dignos por um determinado tempo. Penso até que isto é uma resposta do nosso coração, mostrando que não somos de ferro. O que não pode acontecer é ficarmos assim para sempre. A vida segue em frente e o que parecia trágico acaba por nos fazer crescer. Um dia daremos risada ao lembrar atitudes que fomos capazes de tomar num momento de dor. Na novela Teresa encontrará um novo amor e será feliz novamente. Na vida real a maioria das mulheres passa pela fase Teresa, com todo o direito que têm e depois, de salto 18, levantam a cabeça e seguem em frente , sozinhas ou com um novo amor, na eterna busca pela felicidade trocando a amargura por um belo sorriso nos lábios!

Célia Araújo

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