20/06/2010

FEIÚRA SEM PERDÃO

“As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”, dizia Vinícius de Moraes em seu poema Receita de Mulher. Ele, que colocava a beleza em tudo que criava, deve ter sido perdoado pelas feias. No entanto a feiúra física é subjetiva. Nariz grande, boca pequena, dentes mal-alinhados podem ser considerados feios na opinião de alguns, e muito charmoso na opinião de outros... Acreditem! Há homens que não acham a Gisele Bündchen bonita. Gosto é algo muito pessoal e cada um tem o seu, não é mesmo?

Porém se a frase famosa de Vinícius fosse usada no sentido da beleza da alma, da beleza de atitudes ou da beleza de caráter, todos concordariam que beleza é fundamental. As pessoas, por mais humildes que sejam, podem ser belas nestes quesitos. Não dá para perdoar tanta feiúra espalhada por aí, principalmente por aqueles que tiveram a oportunidade de ter uma boa educação. São feios porque querem. Poderiam ser bonitos sem necessitarem de plásticas. Outro dia um rapaz sentou a minha frente e tive a impressão de ele estar com sarna nos testículos, de tanto que os coçou. Não teve a menor cerimônia por estar diante de uma mulher. Ele poderia ser o clone do Rodrigo Santoro que ainda assim eu o acharia feio. Que horror, tamanha falta de educação.

São feios os que falam da vida alheia, os que gritam desnecessariamente, os que ouvem atrás das portas, os que roubam verbas púbicas, os que não respeitam os pais, os que enfiam o dedo no nariz, os que mentem para se promover, os que batem em crianças, os que só querem tirar vantagens, os que são pedófilos, os políticos corruptos, mulheres que abandonam os filhos, líderes religiosos que roubam fiéis, vizinhos fofoqueiros, pessoas soberbas, os inconvenientes, os sem amor no coração, os que dirigem embriagados, os que querem tudo nas mãos, os chefes que humilham seus subordinados, bêbados em ônibus, homens tarados, pessoas sem a mínima educação...E para estes, não tem perdão!

Célia Araújo

06/06/2010

MÁSCARAS NECESSÁRIAS



Em tempos de reality show, tornou-se comum a expressão "máscara" ser usada como sinônimo de falsidade, dissimulação, fingimento, e outros adjetivos pejorativos. É muito comum ouvirmos falar que as pessoas que não usam máscaras são verdadeiras, corretas e pessoas mascaradas são falsas, dissimuladas. Será?

Como humanos estamos expostos a situações adversas durante toda a nossa vida. Seja no trabalho, no lar ou entre amigos, nem sempre podemos agir conforme manda nossa consciência. Muitas vezes precisamos de disfarces que nos permitam conviver bem com as demais pessoas sem entrarmos em atritos desnecessários. Imagine se você resolvesse falar sempre a verdade em qualquer situação. Teria que dizer ao seu amigo que ele está com mau-hálito. Não poderia mentir sobre a roupa que deixa sua namorada com aparência de gordinha, caso ela te perguntasse. E o constrangimento que causaria quando seu chefe indagasse pelo colega e você o entregasse, contando que o mesmo está matando trabalho. É bom nem pensar! Isto já foi tema de uma comédia no cinema e rendeu boas gargalhadas...

Usamos máscaras em qualquer situação. O homem sério, de pouco sorriso, no ambiente de trabalho é também o homem alegre, de sorriso farto com o grupo do futebol. A menina discreta diante da família é a mesma que paquera muito quando entre amigas no Shopping. A mulher educada, elegante perante as amigas, desce do salto rapidamente quando o assunto é defender os próprios filhos. Ora nos mostramos sensíveis, ora fortes. Ora somos extrovertidos, ora introvertidos. Não podemos e nem devemos nos mostrar os mesmos em casa ou no trabalho, na escola ou no clube, na missa ou na casa do namorado. Até mesmo um inocente bebê usa a máscara de coitadinho para ganhar o colinho da mamãe.

Não só criamos personagens através das nossas máscaras como também escondemos traços da nossa personalidade que não desejamos ou não podemos mostrar naquele momento. Não raro, nos surpreendemos com colegas de trabalhos ao conhecê-los na intimidade de seu lar. Parece outra pessoa, não é mesmo? E talvez seja mesmo outra pessoa, já que os seres humanos são múltiplos, exercendo vários papéis na sociedade. Naquele odiado jantar de negócios, máscara de simpático. No almoço de domingo com a sogra, máscara de nora perfeita. No futebol com os amigos do marido, máscara de esposa compreensiva. E se você me disser que não as usa nunca, eu lhe direi que esta usando a máscara da perfeição.

É claro que por escondermos os nossos sentimentos e vontades no nosso convívio social, não quer dizer que não temos personalidade. Cada ser humano tem sua essência, suas convicções que o torna ímpar perante outro. Usamos nossos disfarces quando necessário e na maioria das vezes para protegermos a nós e a quem amamos. É a lei da vida. Até um animal se faz de morto para fugir do predador. No entanto é quando nos olhamos no espelho da nossa existência que vemos quem realmente somos, sem disfarces, sem máscaras. Olhe sua imagem no espelho hoje. Apresente-se a você mesmo! Espero que seja um prazer conhecer-se!


Célia Araújo

03/06/2010

PARA MINHA MÃEZINHA (EM MEMÓRIA)



Oi Mãe!

Sempre pensei em escrever sobre você, mas nunca consegui! Sabe mãe, quando você foi embora eu descobri que escrever é uma excelente terapia. Isto se tornou um hábito e muitos e muitos textos que eu escrevi já coloquei fora, era só um desabafo. As letras se tornaram minhas melhores amigas. A coisa é simples assim: eu escrevo e me sinto melhor, depois que estou melhor descarto o que escrevi. Talvez por isto nunca conseguisse escrever sobre você. Eu não conseguiria descartar o escrito! Hoje, porém, senti uma necessidade de conversar com você. Está chegando a data do seu aniversário de vinda e de ida deste mundo e as lembranças ficam mais claras na minha mente nesta situação. Preciso falar-te através desta carta...

Sabe Mãe? A vida aqui na terra mudou muito desde que você se foi. Agora as pessoas não escutam mais disco de vinil. É o tal Cd que o substituiu. A gente ouve e parece que o cantor está na nossa sala cantando. Aquele radinho de pilha que você escutava enquanto lavava roupas no tanque também já está deixando de existir. Agora as pessoas escutam MP3, MP4, Mp10. Aliás, poucas são as mulheres que ainda lavam roupas em tanque. A mulherada agora usa máquina pra tudo. E o telefone então? O celular virou companheiro inseparável das pessoas. Ah! Desculpa Mãe! Você não deve saber o que é celular. O celular é um telefone que mais parece um radinho de pilha. As pessoas andam com ele no bolso ou na bolsa, levam para todos os lugares e podem ligar para os outros de qualquer lugar onde estejam. Com isto, o hábito saudável de visitar os amigos e parentes está quase deixando de existir. Se as pessoas querem conversar, usam o celular, se querem fofocar usam o celular. Se querem reclamar, usam o celular.

Agora também, Mãe, é a era do computador. É uma tela parecida com a televisão, mas muito menor que aquela televisão a válvula que tinha na nossa sala, lembra? Pois é. O computador nos liga ao mundo inteiro. Tudo está no computador. Desde uma receita de bolo até o último livro publicado. Sem falar no email, que nada mais é que uma carta eletrônica, eu escrevo aqui no meu computador e a pessoa que eu enviar recebe no dela. Não é o máximo, Mãe?

Inventaram de tudo neste mundo maluco, Mãe! Tem até Robô fazendo cirurgia em humanos. Mas, nem uma mente brilhante como a destes cientistas, conseguiu inventar um remédio para a dor desta saudade que eu sinto de você. É uma saudade tão grande e tão dolorosa, que não conseguiria explicar. Eu sinto falta até daquilo que eu não vivi com você. É a tua ausência nos melhores e piores anos da minha vida que me incomoda. É a mão que você não pode me dar em noite de temporal. É a conversa que precisava ter quando amei pela primeira vez. Os teus conselhos que precisei escutar e não os tive. Todos estes anos eu guardei pequenas recordações que alimentaram a minha alma enquanto eu crescia! Eu me tornei a mulher que sou porque me inspirei na mulher que eras! Eu enfrentei todos os obstáculos por lembrar sempre da tua voz serena e firme dizendo ao meu ouvido: “O mundo pertence aos fortes. Tenha coragem sempre, Minha Filha!” Guardei lembranças de momentos que ficarão para sempre em meu coração!

Hoje sou Mãe, como você! E como eu gostaria que estivesse aqui para te contar sobre os meus filhos. Sobre minhas inseguranças de mãe, sobre a primeira papinha, o primeiro dentinho, as minhas conquistas, os meus erros, tudo , tudo mesmo... E também te dizer que Deus me deu tantas coisas, tantas alegrias, que eu não consigo entender porque não deixou você comigo...

Sem Lamentos, quero te dizer que o pouco tempo que estivemos juntas aqui na terra fez com que eu sentisse um orgulho enorme de você. Um dia teremos as respostas para as nossas perguntas. Quem sabe, em outra encarnação poderemos viver o que foi interrompido nesta vida! Eu amo você, Minha Mãezinha. E te amarei por toda a eternidade!

Sua Caçulinha, Célia Araújo.